As Famílias, Marcas, Brasões, Simbolismos
As Famílias

As marcas são a escrita d’ O POVEIRO, constituindo imagens de objectos: sarilho, coice (imagem de parte da quilha de um barco), arpão, pé de galinha, grade, lanchinha, calhorda, pena, etc.

As marcas estão nas redes, nas velas, nos mastros, nos paus de varar, nos lemes, nos bartidoiros, nos boireis, nas talas, nas facas da cortiça, nas mesas, nas cadeiras, em todos os objectos que lhe pertençam, quer no mar, na praia ou em casa. A marca num objecto equivale ao registo de propriedade. O POVEIRO lê essas marcas com a mesma facilidade com que nós procedemos à leitura do alfabeto.

Não são marcas organizadas ao capricho de cada um, mas antes simbolismos ou brasões de famílias, que vão ficando por herança de pais para filhos e que só os herdeiros podem usar.

Vejamos, agora, a forma engenhosa como essa marca serve de escrita a todos os membros duma família, com perfeito conhecimento de toda a comunidade. O chefe da família usa a sua marca (ou brasão); o filho mais velho põe-lhe ao lado um pique; o outro a seguir, dois piques; o outro três piques e assim sucessivamente até ao filho mais novo, que volta a usar a marca da família, porque, para O POVEIRO, é o seu legítimo herdeiro. As marcas são assim, digamos, os brasões de família.

Mas servem para outros fins. Por exemplo, O POVEIRO, ao casar-se, registava a sua marca na mesa da sacristia da Matriz, gravando-a com a faca que lhe servia para aparar a cortiça das redes. Outro caso é o facto dos vendeiros analfabetos se servirem das marcas para saberem de quem era a conta fiada, pintando a marca do devedor. E era costumeiro OS POVEIROS assinalarem a  sua passagem por um sítio com a marca. Nos mosteiros ou capelas onde fosse cumprir uma promessa, mormente quando ela era feita em nome colectivo, isto é, da companha, gravava nas portas dos templos, nas mesas das sacristias, nas cercaduras em madeira, nos arcos cruzeiros, a sua marca, que assim servia de testemunho perante a grei do cumprimento da sua promessa, o que atesta a grande fé desta comunidade nos santos invocados. Finalmente, diga-se que também os velhos POVEIROS analfabetos, em vez de assinarem em cruz nos documentos públicos, faziam a sua marca, que era o equivalente à sua assinatura.

As Famílias, Marcas, Brasões, Simbolismos

Pin It on Pinterest

Share This