

PORQUE SE PUBLICA ESTE LIVRO ?
Em 1901, O POVEIRO ilustre e eminente publicista Rocha Peixoto, de saudosa memória, fez na Associação Comercial da Póvoa de Varzim uma conferência. Como nela se afirmasse, citando datas, que no nosso país só muito tarde é que se agrupavam as classes, iniciando-se o movimento associativo com as confrarias de invocações de santos patronos dessas classes, não me pareceu que essa afirmação estivesse certa pelo que conhecia da classe piscatória poveira, vivendo agrupada e em comunidade desde tempos imemoriais.
(…)
Um dia apareceu-me Rocha Peixoto com o Capitão Fonseca Cardoso, distintíssimo antropologista. Queria fazer o estudo antropológico d’ O POVEIRO e carecia dos espécimes, que indicou. Lá se arranjaram e fez-se o estudo. Continuei a colher as minhas notas destinadas exclusivamente ao eminente Rocha Peixoto, mas, infelizmente, ele não as pode ver. A sua formidável actividade esgotou-o, dando-lhe a morte. Arrumei as notas sobre O POVEIRO e nunca mais pensei nelas.
(…)
Uma dúzia de anos mais tarde, apareceu na Póvoa o meu querido amigo e eminente filósofo Leonardo Coimbra. Falou-se dos POVEIROS e e eu mostrei-lhe as notas. Quis que publicasse uma delas, o que fiz com certa relutância. Via, porém, com mágoa que os usos, costumes e tradições d’ O POVEIRO iam desaparecendo, sem que nada ficasse a registá-los como documentário para o estudo dos povos desta parte da beira-mar portuguesa.
(…)
Em 1915, surgiu o Folk-Lore Varzino do jornalista Cândido Landolt. Tirando a legislação e o cancioneiro, dois bons registos, o resto está errado, deturpado. Prestando então a minha homenagem às boas intenções do falecido jornalista, que não era POVEIRO e, portanto, fácil de ser enganado, vim logo à estacada fazer a crítica a este livro no jornal local O Comércio da Póvoa de Varzim. Mas alguns amigos e dedicados poveiros lembraram-me que o jornal desaparecia e o livro ficava, prevalecendo o erro. Achei bem. Parei com os artigos, coordenei as minhas notas e delas sai este livro “O POVEIRO“. Dele, ressalta, quando mais não seja, o meu carinho pela classe de que descendo.
António dos Santos Graça
