S. Pedro e os Bairros
S. Pedro e os Bairros
Santo António, S. João e o S. Pedro
Bairros
Mãe, Hoje Não Durmo em Casa!

O POVEIRO, homem do mar, é um crente sincero. Quando tem, não há andadeiro de santos que lhe bata à porta que não leve a esmolinha, sempre acompanhada da sua súplica ao santo lembrado por aquele: “Senhora das Dores me dê saúde” ou “S. José me valha” ou ainda “Senhor dos Aflitos nos acude“. Quando não tem, pode, nos Invernos, estalar de fome e esta obrigá-lo a empenhar os haveres e a andar por essas aldeias fora, de porta em porta, das casas dos lavradores, a pedir a esmolinha para o “poveirinho que o Senhor não dá do mar“, que o dinheiro que neles está – e que lhe podia matar a fome muitos dias – é sagrado, não se lhe toca.

É fertilíssimo em promessas aos santos. À mais pequena aflição no mar ou em terra faz uma promessa, à espera de um qualquer milagre. Mas estes são os santos sérios, carrancudos, com quem não se pode brincar, embora alguns sejam benevolentes. Há também os santos bonacheirões, que deixam O POVEIRO brincar com alegria, beber uma pinga em sua honra, atirar ao ar duas cantigas brejeiras e mandar ao diabo as paixões. Estes são os três santos populares dos portugueses: Santo António, S. João e o S. Pedro, o preferido d’ O POVEIRO. Pode até dizer-se que o que há de mais interessante no cancioneiro das gentes da Póvoa de Varzim se deve ao festejo deste santo, que nos bairros piscatórios atingem uma certa bizarria: na véspera, todos armam o seu altar, cheio de flores e velas, que ardem toda a noite a iluminar o santo; nas ruas, em frente às portas, a fogueira, e aqui e além danças populares com cantares ao desafio.

É esta a grande festa popular, onde O POVEIRO se expande com exuberância. Ranchos e fogueiras, violas e ferrinhos e o botador de versos que começa as cantigas com a vida do S. Pedro ou brejeirices em nome dele. Por exemplo:

O’ meu Pedro
O’ meu Pedro
O’ meu c’ reca
Hei-de ir aos polvos à vossa forneca.

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